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Estudo mostra que Região Metropolitana do Rio é a que mais perde com deslocamentos casa-trabalho

02 de maio de 2017

O tempo médio dos deslocamentos casa-trabalho no Rio é de 52 minutos, o pior índice entre as Regiões Metropolitanas do país, e quase o dobro dos 30 minutos considerados ideais. Esse é um dos resultados do estudo do economista Guilherme Vianna, técnico do Consórcio Quanta-Lerner, que aprofundou os dados de sua tese de metrado para o diagnóstico e propostas de desenvolvimento do Plano Metropolitano do Rio de Janeiro.

Para chegar aos números das nove principais Regiões Metropolitanas do país, ele se baseou na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, em uma comparação do tempo médio das viagens e do valor médio da hora de trabalho da população. O tempo gasto na capital fluminense, convertido em renda, significou R$ 35,7 bilhões em 2014, valor este que, segundo ele, poderia ser investido em produtividade, atividades intelectuais ou de lazer.

O que despertou seu interesse em estudar as Regiões Metropolitanas do país?

Na verdade, o estudo da Região Metropolitana foi uma consequência de olhar para a mobilidade. O interesse pela mobilidade surgiu ainda na faculdade, quando percebi que os estudos de economia são sempre muito focados na questão macroeconômica, em PIB, juros etc. Comecei, então, a querer fazer diferente e percebi que existia um impacto enorme da mobilidade na vida das pessoas e na economia, porque há perda de tempo nisso, e tempo é dinheiro. Comecei a ver o impacto, não só em relação à produtividade, mas a entender como isso é desigual, pois as pessoas mais pobres são as que moram mais longe, as que mais perdem tempo com mobilidade e, consequentemente, as que mais gastam dinheiro com isso. Aprofundei no tema e me deparei com o grave problema das regiões metropolitanas porque não faz sentido você comparar mobilidade em cidades distintas, e sim, numa rede de cidades que estão todas conectadas, como a metrópole do Rio.

E como é feita a relação do tempo com dinheiro?

Isso é muito comum em economia, tanto é que o cálculo de salários é feito com base na hora trabalhada. O próprio PIB é um cálculo do quanto determinado local produziu em determinado período de tempo. Essa relação é tradicional. E quando se começa a estudar mobilidade, a primeira coisa que vem à cabeça é o tempo que as pessoas perdem indo de um lugar para o outro e que, logicamente, poderia ser convertido em dinheiro. Não necessariamente porque a pessoa estaria trabalhando, mas se ela estivesse exercendo uma atividade intelectual ou mesmo uma atividade de lazer, ela poderia estar gerando uma renda, de bem-estar, por exemplo.

E por que o problema do Rio de Janeiro é pior do que o de São Paulo?

É pior em termos percentuais e em tempo de deslocamento. O tempo médio dos deslocamentos casa-trabalho no Rio é de 52 minutos, enquanto o de São Paulo é de 47 minutos. Isso pode ser atribuído em função da concentração do trabalho no Centro da capital fluminense, e por causa da sua geografia que é uma questão natural que não pode ser descartada. Outro fator importante é a oferta limitada de transporte público, que é pior do que em São Paulo. Lá existe uma rede de metrô, no Rio, são poucas linhas retas, sem uma circulação interna que ajudaria na dispersão da população que anda muito de ônibus, em ônibus lotados.

E os investimentos em transportes públicos feitos no Rio nos últimos anos, como VLT e BRT, além da promessa de modais mais integrados?

Não deixa de ser uma iniciativa, mas que precisa vir associada a várias outras. Uma delas é a questão da habitação, ou seja, incentivar as pessoas a trabalhar mais perto de casa. Em relação à questão da integração tarifária, que ainda não existe, certamente facilitaria para que as pessoas pudessem optar por certos meios de transportes, que às vezes são mais caros, mas mais eficientes. Por exemplo, na Barra, era esperado que as pessoas trocassem o ônibus pelo metrô, mas isso ainda não aconteceu em função da diferença de preço, porque fica mais caro. Se o preço fosse o mesmo teria mais gente usando o metrô, e isso já geraria um impacto bom na mobilidade. Além disso, não adianta você criar uma boa forma de transporte se você não tiver uma manutenção adequada e necessária, o que não vem acontecendo. Tem que ter integração, planejamento da cidade e da metrópole, juntamente com todos os outros ativos e serviços que têm que estar disponíveis à população.

Para se conseguir fazer esses investimentos em planejamento e manutenção, ou até mesmo em novos transportes, seria viável fazer parcerias público-privadas (PPP) já que o Estado está em crise?

A gente está em um momento em que o Brasil não tem condições de fazer investimentos, o Estado está endividado, os municípios não têm dinheiro e, ao mesmo tempo, é imprescindível melhorar a infraestrutura, porque existe um evidente problema de mobilidade e de manutenção. Acredito que, muitas vezes, é necessário fazer parcerias com a iniciativa privada para que ela possa assumir esses investimentos, mas sempre pensando de maneira integrada. Não se pode deixar com que ela aja somente de acordo com seus interesses.

Seria uma PPP compartilhada?

Podem ser compartilhadas, ou PPPs com contrapartidas. Você faz com que a obra seja paga pela iniciativa privada, que vai receber um retorno do Estado no futuro. Isso é importante dizer, porque em PPPs, o Estado também paga, ele só adia o pagamento. Em um momento como esse que estamos passando, é necessário pegar dinheiro, e essa é a solução que existe. Em uma PPP, a empresa administra por um período determinado de tempo, e depois ela (a obra, o bem ou serviço) volta para a iniciativa pública. Daí ela segue de acordo com suas necessidades e pode, inclusive, realizar outra PPP. Mas o importante é que existe essa relação de interesse duplo, porque também faz parte do negócio da iniciativa privada que esses problemas sejam resolvidos. É preciso que o Rio de Janeiro volte a receber investimentos.

Existe alguma Região Metropolitana no país que já encontrou uma solução para esses problemas de deslocamento?

Eu não cheguei a aprofundar o porquê, onde está o problema ou a solução, já que o foco da minha tese de mestrado foi a metrópole do Rio de Janeiro. Mas as três Regiões Metropolitanas que apresentam os melhores resultados em termos de tempo são Curitiba, Porto Alegre e Fortaleza. Mas em Fortaleza é essencialmente porque a cidade é plana e a maioria das pessoas anda de carro. Para elas é ótimo, mas para quem não tem essa facilidade não é tão bom. Já em Porto Alegre funciona bem não porque existe uma grande estrutura de transporte, mas por não existir um grande Centro que concentre as ofertas de emprego. Lá se trabalha perto de casa, as pessoas são mais bem distribuídas no espaço moradia-emprego, o que é uma coisa muito boa, pois gera qualidade de vida. E Curitiba se destaca porque teve grandes investimentos de transporte no passado, mas já se vê, nos últimos anos, que tem piorado bastante a situação.

Em função de quê? Do crescimento populacional?

Sim, porque a população veio crescendo e a mobilidade não está mais dando a resposta positiva que teve no passado. O BRT, implantado há anos atrás, não está respondendo da mesma forma.

Qual seria a solução para combater esse problema de grandes deslocamentos?

É preciso trabalhar com várias frentes. Primeiro porque, obviamente, é impossível se eliminar todos os problemas de mobilidade. As pessoas têm que ir ao trabalho, tem que ir para casa. A questão é que, no Rio de Janeiro, assim como no Brasil de uma forma geral, você perde muito tempo com o deslocamento, e isso tem que diminuir.  Para isso, você precisa de soluções integradas, não adianta só construir metrô, por exemplo. Tem que se considerar onde as pessoas estão trabalhando, morando, onde as crianças estudam, entender quem e como está usando o automóvel, ou aqueles que vão de transporte público. No caso do Rio, até existe grande incidência de pessoas usando o transporte público, o problema é que a oferta é ruim. As pessoas sofrem não só com o tempo que elas perdem, mas também com problemas de conforto, lotação, estresse, calor e várias outras coisas que deveriam ser vistas.

E a questão do espraiamento urbano? Também contribui para as grandes distâncias?

É determinante.  Você tem cada vez mais gente morando longe dos locais de emprego e infraestrutura. Na série histórica da região é possível ver o aumento do tempo de deslocamento no Rio. Mas não existe resposta única para problemas como o aumento do espraiamento, da concentração de empregos no Centro ou para o aumento da população. O Estado não fez reformas suficientes. São poucas novas ofertas de transporte, o que não desconcentrou em nada os antigos. Além disso, falta também uma colaboração da própria sociedade civil, porque essa situação da mobilidade só vai mudar no dia cada um fizer a sua parte. Eles entendem os problemas, reclamam com razão, pois convivem com isso todos os dias, mas pensar nas possíveis soluções, saber que não é legal andar de carro, valorizar e incentivar o transporte público, não fazem. E quando eu falo de sociedade civil, não me refiro só às pessoas, mas também às empresas, que devem pensar que se seus trabalhadores levarem menos tempo para irem ao trabalho, podem render mais, estarem menos estressados. Todos temos que achar soluções nesse sentido.

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