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Taco Roorda: “O trabalho de se fazer um Plano Metropolitano não é autoral, mas coletivo”

20 de março de 2017

Taco Roorda, da coordenação técnica do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado e especialista em Reconfiguração Espacial e Centralidade do Consórcio Quanta-Lerner, explica como este é um eixo orientador, cujo objetivo, junto com os de Economia e Gestão, é fornecer informações e propostas norteadoras para que todos os seis pilares caminhem em total entrosamento.

Taco é arquiteto e urbanista com vasta experiência no Brasil, México e Angola em serviços como consultoria para elaboração de planos diretores municipais e de estruturação urbana, transporte coletivo, projetos de revitalização de áreas centrais, requalificação urbana, planos regionais e projetos com foco no desenvolvimento do turismo sustentável.

 

Do que trata o eixo que fala de Reconfiguração Espacial e Centralidade?

Esse eixo, assim como o de Economia e de Gestão, é um dos orientadores do projeto. Na verdade todos os seis eixos andam juntos. A área de saneamento, por exemplo, cuida de preparar uma base ambiental e tem propostas estruturantes que não podem ser mudadas. Ou seja, se uma área é alagadiça, essa é uma condicionante de ocupação daquele território. A mesma coisa acontece com as questões de mobilidade, que já têm equipamentos estruturados, como os corredores, metrô e trem. Tendo todos esses insumos, o eixo de Reconfiguração Espacial e Centralidade tem a iniciativa de avaliar as propostas em conjunto, entender como se daria a ocupação, a estruturação urbana.

O coordenador de estratégias do PDUI/RMRJ e especialista em Planejamento Urbano, Jaime Lerner, sempre defende que em uma cidade as coisas têm que caminhar juntas – e a Região Metropolitana não deixa de ser uma grande área urbana com um conjunto de cidades. Defendemos que vida e trabalho precisam estar próximos. E, mais do que isso, quanto mais misturadas as funções de uma cidade, em termos de classes, de renda, de idade, de uso, de oportunidades, melhor e mais seguro será o município, já que há mais possibilidades de uma vida permanente naquele determinado local. E é isso que estamos buscando.

Em que fase se encontra o trabalho?

Neste momento, o cuidado que estamos tendo é o de buscar uma aproximação com as opiniões, as propostas e os insumos de todos os eixos temáticos, de forma que possamos, todos, conversar em um mesmo tom. Estamos em um momento de considerar as propostas e juntar tudo em um parecer único que busque o crescimento e a consolidação da Região Metropolitana do Rio.

Que fatores caracterizam uma área com potencial de se tornar uma centralidade?

Temos centralidades já consagradas, como Campo Grande, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São Gonçalo. Sem falar em Niterói e no Rio de Janeiro, que tem a característica de capital duocêntrica. Esse diálogo entre Rio e Niterói faz parte da história e precisa ser fortalecido. Em relação às novas centralidades a serem apontadas, a função a ser explorada e a dinâmica da ocupação dependem daquilo que for proposto para o bem da Região Metropolitana.  Algumas delas terão seu crescimento estimulado de acordo com o cenário. Então, por exemplo, na região oeste da Região Metropolitana tem o Porto de Itaguaí e grandes indústrias. Já do lado do Rio de Janeiro tem o Distrito Industrial de Santa Cruz. Seropédica pode ser uma área onde se explore atividades retroportuárias, de logística, ou atividades industriais que darão suporte ao porto e às áreas industriais, além de estar próximo ao Arco Metropolitano, em uma posição estratégica para São Paulo. Poderia vir a ser, então, uma nova centralidade.

E assim dependeriam menos da capital?

Sim, o objetivo é fazer com que os municípios dependam menos do centro do Rio, que é onde os empregos estão hoje. Quando eu digo centro, é um centro ampliado, é o centro em relação ao que está em volta, incluindo, por exemplo, a Zona Sul, Madureira e outras áreas no entorno do porto que podem ser consideradas centralidades. Do outro lado da Baía tem o Comperj, que está parado, mas que em algum momento irá retornar as atividades devido aos altos investimentos já feitos. Sendo retomado, Itaboraí pode ter um papel de destaque dentro da Região Metropolitana, até porque tem uma base industrial e está em um ponto estratégico junto a eixos rodoviários, na entrada do Arco Metropolitano. Nesta fase, estamos discutindo até que ponto podemos prever, estimular e propor a consolidação de ideias desse tipo.

Há risco de competição entre as centralidades?

Centralidades são referências.  A cidade vai criando centros e sub centros. Quando se pensa numa Região Metropolitana precisa ter uma escala um pouco mais afastada, porque quem define a ocupação do território municipal é a prefeitura. O Plano Metropolitano propõe uma estrutura maior, que envolve outros municípios, os quais têm estruturas comuns, como o eixo de transporte, rodovias e coisas assim. E um dos resultados mais interessantes que podem surgir desse trabalho é que os municípios vão começar a olhar para os seus vizinhos. Hoje, quando uma prefeitura faz o seu plano diretor, pensa dentro dos seus limites. Mas, muitas vezes, uma via, por exemplo, continua para dentro de outra cidade, o que pode levar a mudar totalmente suas características. Em uma Região Metropolitana precisamos estimular uma visão mais ampla, de integração. Só isso já é um ganho muito grande. A intenção é que as cidades sejam complementares, cada uma explorando sua vocação e particularidades. Identificando essas forças, todo mundo ganha, inclusive em diversidade.

Pela primeira vez na história temos mais municípios predominantemente urbanos, e não mais rurais. É um risco?

Não é um perigo, mas a preservação da escala e da vocação rural é importante também. A Região Metropolitana tem uma imensa faixa, ao norte, que é predominantemente rural. Pela visão integrada dos eixos, principalmente o Econômico, entendemos que é muito importante fortalecer essa atividade rural. Porque valorizar essa economia, mesmo que ela não seja tão representativa no PIB, ajuda a preservar a região. Uma área rural desvalorizada é uma área que está prestes a ser construída ou loteada.  A falta de valor agregado à terra rural acaba estimulando essa expansão urbana, que precisamos conter.

 O crescimento de municípios predominantemente urbanos assusta quanto a essa expansão desenfreada?

O fato de ser predominantemente urbano não assusta, e sim, enriquece. Porque a cidade é o motor do mundo. É na cidade que as forças criativas, econômicas, as forças do homem se mostram melhor. É onde a cultura consegue florescer. O que assusta é uma cidade não estruturada, que é apenas um aglomerado de casas. E, nesse sentido, os municípios precisam ter cuidado com seus perímetros para não expandir demais. Essa deve ser a nossa recomendação.

 A que pode ser atribuído o espraiamento descontrolado que aconteceu na Região Metropolitana?

Aos sonhos das pessoas de terem uma casa própria e buscarem essas casas onde é possível obtê-las. Sem alternativas, elas vão para terrenos distantes que possam pagar. Ou para favelas por estarem mais próximas das oportunidades de emprego e da própria cidade, onde estão as estruturas de saúde, escolas, etc. A cidade vai dando pulos: uma franja é ocupada, esta área fica, então, mais valorizada em função da ocupação, e isso faz com que, consequentemente, a pessoa já não consiga mais comprar um terreno. Ela dá um pulo e vai além do limite dessa área. Isso é uma maneira um pouco simplista, porque não é só o que determina o espraiamento, mas é um dos fatores. Se o poder público passa a oferecer alternativas em termos de habitação, trazendo as pessoas para mais perto da cidade, há retenção do espraiamento. O que tem acontecido é que a cidade tem aumentado, mas a densidade tem diminuído, e isso não é bom. É preciso buscar a densidade, o que significa mais gente vivendo junto para viabilizar os serviços, os equipamentos de saúde, transporte, escolas, comércio. É assim que se cria um mix de usos que eu entendo como o ideal para as cidades.

Quais são os próximos passos?

O desafio, agora, é pegar os estudos dos diversos eixos e colocá-los juntos. Esse é o trabalho da coordenação, da qual eu faço parte. Mas é um desafio interessante, que parece difícil, mas não é, já que todo mundo fala a mesma coisa. É claro que a gente vive em outra época, com novas características da economia criativa, da tecnologia. Mas a estrutura de ocupação já vem sendo dita há 30 ou 40 anos. Eu já trabalhei no Rio na década de 1980, também com planejamento metropolitano, e a gente percebe que algumas coisas continuam muito atuais, os problemas continuam os mesmos. Nosso trabalho agora é um esforço para tentar avançar nessas questões que são permanentes.

Outro ponto essencial é fazer com que as prefeituras estejam juntas conosco.  Sem elas o Plano não acontece. O Plano é uma construção coletiva, não um trabalho de especialistas, de técnicos ou de coordenadores. O processo participativo que tivemos foi muito rico e nos fizeram ir corrigindo os rumos. Esse processo de qualificação contínua de um trabalho é fundamental e tem que ser permanente. Colocar uma ideia em discussão e ter aporte de outras pessoas para melhorar a proposta é o que dá mais legitimidade para o produto final. Ele não é autoral, é coletivo.

 

 

 

 

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